sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2010 - António Ramos Rosa

Não posso adiar o amor para outro século

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração.

António Ramos Rosa
Portugal

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Wislawa Szymborska

Three Oddest Words

When I pronounce the word Future,
the first syllable already belongs to the past.

When I pronounce the word Silence,
I destroy it.

When I pronounce the word Nothing,
I make something no nonbeing can hold.

Wislawa Szymborska
Polónia

B-B - Exposição Bibliográfica


Entre os dias 3 e 10 de Maio, a Biblioteca da Faculdade de Letras realizará, no Átrio, uma exposição bibliográfica sobre Armando Baptista-Bastos, conhecido cronista e autor de romances, integrada no ciclo de intervenções "Novos Diálogos de Comunicação e Cultura", promovido pelo curso de Ciências da Cultura, perfil Comunicação e Cultura da FLUL.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Camões

Sempre a Razão vencida foi de Amor

Sempre a Razão vencida foi de Amor;
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis Amor ser vencido da Razão.
Ora que caso pode haver maior!

Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração,
Que perde suas forças a afeição,
Por que não perca a pena o seu rigor.

Pois nunca houve fraqueza no querer,
Mas antes muito mais se esforça assim
Um contrário com outro por vencer.

Mas a Razão, que a luta vence, enfim,
Não creio que é Razão; mas há-de ser
Inclinação que eu tenho contra mim.

Luís de Camões
Portugal

terça-feira, 27 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Sophia de Mello Breyner

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Portugal

domingo, 25 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Bocage

Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga

Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor que a ti sòmente os diga
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel que a delirar me obriga.

E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar o meu coração de horrores.

Bocage
Portugal

sábado, 24 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Herberto Helder

Aos amigos

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Helder
Portugal

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Al Berto

E ao anoitecer

e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia

Al Berto
Portugal

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Manga a Ocidente - Dia Mundial do Livro 2010


Dia 23 de Abril, Dia Mundial do Livro e da Leitura, poderás assistir a uma conferência/mesa-redonda sobre a Manga. Se estás interessado, aparece pelas 16h no Anfiteatro III!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Fernando Pessoa

Não é ainda a noite

Não é ainda a noite
Mas é já frio o céu.
Do vento o ocioso açoite
Envolve o tédio meu.

Que vitórias perdidas
Por não as ter querido!
Quantas perdidas vidas!
E o sonho sem ter sido...

Ergue-te, ó vento, do ermo
Da noite que aparece!
Há um silêncio sem termo
Por trás do que estremece...

Pranto dos sonhos fúteis,
Que a memória acordou, I
núteis, tão inúteis –
Quem me dirá quem sou?

Fernando Pessoa
Portugal

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Senghor

Visita

Na escassa penumbra da tarde,sonho.
Vêm me visitar as fadigas do dia,
os defuntos do ano, as lembranças da década,
como uma procissão dos mortos daquela aldeia
perdida lá no horizonte.

Este é o mesmo sol, impregnado de miragens
o mesmo céu que presenças ocultas dissimulam
o mesmo céu temido daqueles que tratam
com os que se foram

Eis que a mim vêm os meus mortos.

Léopold Senghor
Senegal

Sérvia, Caricaturas Contemporâneas


Biblioteca da FLUL,
21 de Abril a 6 de Maio de 2010
As primeiras caricaturas surgiram na imprensa mundial a partir de 1796, após a invenção da litografia por Alois Senefelder. A Sérvia acompanhou esse movimento e em 1860, Jovan Jovanovic Zmaj, famoso poeta satírico sérvio, e Dimitrije Mihajlovic, fundaram em Novi Sad o jornal "Mesecar" (Sleepwalker).


Logo em Janeiro de 1861, Dragutin Keseric seguiu-os, com o primeiro número do jornal satírico "Komarac” (Mosquito). Ambos obtiveram grande êxito junto do público, com caricaturas e textos satíricos, particularmente os de Jovan Jovanovic Zmaj.


Este fundou mais um jornal satírico, o "Zmaj" (Dragon) que saiu pela primeira vez em 1864, em Budapeste, mas a sede foi transferida para Novi Sad, em 1868, adquirindo grande popularidade até 1871, quando saiu o último número, em Viena. Logo depois, em 1878, foi fundado o jornal "Starmali" que durou aproximadamente 12 anos, e que, através de caricaturas e textos satíricos, comentava a situação política e social na Sérvia da época.


A partir do início do séc. XX, surgiram os jornais satíricos "Satir", "Vragolan", "Kica" , "Stradija", “Civija" (Pin). Este último, então um dos mais lidos, foi fundado por Svetozar - Zare Grdanicki. Em Outubro de 1906, Zivojin Pavlovic Zikison (1895-1950), caricaturista satírico de Belgrado, redobrou o sucesso da revista “Civija” e tornou-se um dos caricaturistas sérvios mais famosos e respeitados.


Na segunda metade do séc.XX, Pjer Krizanic, uma das figuras mais importantes (o prémio anual sérvio de caricatura tomou o seu nome) fundou o jornal “Osisani jez” e colaborou no diário “Politika”, onde adquiriu notoriedade como caricaturista. Nesse período destacam-se ainda: Zuho Dzumhur, Dimitrije Zivadinovic Miki, Alexander Karakusevic Klas, Dragan Rumencic, Milorad Dobric, Feri Pavlovic, Milos Krnjetin, Nikola Rudic, Pavle Paja Stankovic, Ivo Kusanic, Dejan Nastic, Zoran Jovanovic, Ranko Guzina, Dusan Petricic, Toso Borkovic, Jugoslav Vlahovic, Borislav Stankovic Stabor, Branislav Obradovic, Dejan Patakovic, Slobodan Srdic, Predrag Koraksic Korax...


Muitos dos caricaturistas sérvios continuam a ganhar regularmente prémios internacionais prestigiosos, entre os quais o World Press Cartoon, atribuído anualmente em Sintra. Toso Borkovic foi galardoado duas vezes nos últimos 3 anos (2007 e 2009).Fonte: Zoran Matic

sábado, 17 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Shakespeare

Comparar-te a um dia de verão?

Comparar-te a um dia de verão?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor às mãos do furacão,
o foral do verão que chega ao fim.
Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.
Mas juro-te que o teu humano verão
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;
e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vê e que respira,
te verá respirar na minha lira.

William Shakespeare
Inglaterra

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dia Mundial do Livro 2010 - Pablo Neruda

Tédio

Ir levando no caminho os amores perdidos
e os sonhos idos
e os fatais sinais do olvido.

Ir seguindo na dúvida das horas apagadas,
pensando que todas as coisas se tornaram amargas
para alongarmos mais a via dolorosa.

E sempre, sempre, sempre recordar a fragrância
das horas que passam sem dúvidas e sem ânsias
e que deixamos longe na estéril errância.

Pablo Neruda
Chile

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Baudelaire

Obsessão

Grandes bosques, de vós, como das catedrais,
Sinto pavor; uivais como órgãos; e em meu peito,
Câmara ardente onde retumbam velhos ais,
De vossos De profundis ouço o eco perfeito.

Te odeio, oceano! Teus espasmos e tumultos,
Em si minha alma os tem; e este sorriso amargo
Do homem vencido, imerso em lágrimas e insultos,
Também os ouço quando o mar gargalha ao largo.

Me agradarias tanto, ó noite, sem estrelas
Cuja linguagem é por todos tão falada!
O que procuro é a escuridão, o nu, o nada!

Mas eis que as trevas afinal são como telas,
Onde, jorrando de meus olhos aos milhares,
Vejo a e olharem mortas faces familiares.

Charles Baudelaire
França

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Matsuo Basho

年暮れぬ
笠きて草鞋
はきながら

Toshi kurenu
Kasa kite waraji
Hakinagara

Another year is gone;
and I still wear
straw hat and straw sandal.

Matsuo Basho
Japão

terça-feira, 13 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Vinicius de Moraes

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinicius de Moraes
Brasil

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Carlos Drummond de Andrade

Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade
Brasil

domingo, 11 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Clarice Lispector

Precisão

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

Clarice Lispector
Brasil

sábado, 10 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Mia Couto

Destino

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos

vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso

conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso

agora
que mais
me poderei vencer?

Mia Couto
Moçambique

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Primavera Alentejana


Para celebrar o início da Primavera, a Biblioteca da FLUL apresenta uma exposição de fotografias do Alentejo nesta estação. O autor é Jürgen Irps que, alemão, viveu grande parte da vida entre Portugal, Japão, Estados Unidos da América e Inglaterra.
A não perder, na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de hoje até dia 19 de Abril de 2010.


Dia Mundial da Poesia 2010 - José Craveirinha

Gumes de Névoa

Lágrimas?

Ou apenas dois intoleráveis
ardentes gumes de névoa
acutilando-me cara abaixo?

José Craveirinha
Moçambique

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dia Mundial da Poesia 2010 - Armando Artur

Agora (não) professo

Agora não professo
nem sussurro ao vento
os segredos que reinvento,
remo na transumância dos dias.
O sonho, esse discípulo
da noite dissipada,
inspira-me à peregrinação.
Agora não tenho fronteiras,
mas quando o exílio da memória
me retém o espelho dos dias
ao sentido original das coisas
regresso, porque é necessário
ser contemporâneo do tempo.
Agora, sim, professo:
viver e abraçar os rumores
do presente.

Armando Artur
Moçambique

Dia Mundial da Poesia 2010

Este ano, a Biblioteca da FLUL celebrou o Dia Mundial da Poesia, 21 de Março, distribuindo poemas de autores de diversas nacionalidades na segunda feira seguinte, 22 de Março. Se os perdeste, ou se tens curiosidade em saber quais os textos escolhidos, podes encontrá-los agora aqui no blog, a partir de hoje.