quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Mensageiros das Estrelas
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
Momentos de Poesia - Miguel de Unamuno
Dulcissime vanus Homems
Al amor de la lumbre cuya llama
como una cresta de la mar ondea.
Se oye fuera la lluvia que gotea
sobre los chopos. Previsora el ama
supo ordenar se me temple la cama
con sahumerio. En tanto la Odisea
montes y valles de mi pecho orea
de sus ficciones con la rica trama
preparándome el sueño. Del castaño
que más de cien generaciones de hoja
criara y vio morir, cabe el escaño
abrasándose el tronco con su roja
brasa me reconforta. ¡Dulce engaño
la ballesta de mi inquietud afloja!
Miguel de Unamuno
Espanha
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Momentos de Poesia - Teixeira de Pascoaes
Teu sêr tragicamente enternecido,
Em desespero de alma transformado,
Vae através do espaço escurecido
E pousa no seu tumulo sagrado.
E ele acorda, sentindo-o; e, comovido,
Chora ao vêr teu espirito adorado,
Assim tão só na noite e arrefecido
E todo de êrmas lagrimas molhado!
E eis que ele diz: "Ó Mãe, não chores mais!
Em vez dos teus suspiros, dos teus ais,
Quero que venha a mim tua alegria!"
E só nas horas em que a Mãe descança,
É que ele inclina a fronte de creança
E dorme ao pé de ti, Virgem Maria!
Teixeira de Pascoaes
Portugal
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Momentos de Poesia - Miguel Torga
Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram
Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.
Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...
Miguel Torga
Portugal
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Tu Fu
Restless Night
As bamboo chill drifts into the bedroom,
Moonlight fills every corner of our
Garden. Heavy dew beads and trickles.
Stars suddenly there, sparse, next aren't.
Fireflies in dark flight flash. Waking
Waterbirds begin calling, one to another.
All things caught between shield and sword,
All grief empty, the clear night passes.
Tu Fu
China
terça-feira, 29 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Mechtild of Magdeburg
I cannot dance, Lord, unless you lead me.
If you want me to leap with abandon,
You must intone the song.
Then I shall leap into love,
From love into knowledge,
From knowledge into enjoyment,
And from enjoyment beyond all human sensations.
There I want to remain, yet want also to circle higher still.
Mechtild of Magdeburg
Alemanha
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Mário de Sá-Carneiro
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá-Carneiro
Portugal
domingo, 27 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Swami Vivekananda
The mother's heart, the hero's will,
The sweetness of the southern breeze,
The sacred charm and strength that dwell
On Aryan altars, flaming, free;
All these be yours, and many more
No ancient soul could dream before --B
e thou to India's future son
The mistress, servant, friend in one.
Swami Vivekananda
Índia
sábado, 26 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Maya Angelou
Give me your hand
Make room for me
to lead and follow
you
beyond this rage of poetry.
Let others have
the privacy of
touching words
and love of loss
of love.
For me
Give me your hand.
Maya Angelou
E.U.A.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Momentos de Poesia - António Nobre
Noitinha. O sol, qual brigue em chammas, morre
Nos longes d'agoa... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poezia escorre
E os bardos, a sonhar, molham a penna!
Ao longe, os rios de agoas prateadas
Por entre os verdes cannaviaes, esguios,
São como estradas liquidas, e as estradas
Ao luar, parecem verdadeiros rios!
Os choupos nus, tremendo, arripiadinhos,
O chale pedem a quem vae passando...
E nos seus leitos nupciaes, os ninhos,
As lavandiscas noivam piando, piando!
O orvalho cae do céu, como um unguento.
Abrem as boccas, aparando-o, os goivos...
E a larangeira, aos repellões do vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.
E o orvalho cae... E, á falta d'agoa, rega
O val sem fruto, a terra arida e nua!
E o Padre-Oceano, lá de longe, prega
O seu Sermão de Lagrymas, á Lua!
Tardes de outomno! ó tardes de novena!
Outubro! Mez de Maio, na lareira!
Tardes...
Lá vem a Lua, gratiae plena,
Do convento dos céus, a eterna freira!
António Nobre
Portugal
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Momentos de Poesia - J. R. R. Tolkien
The Road goes ever on and on
Down from the door where it began.
Now far ahead the Road has gone,
And I must follow, if I can,
Pursuing it with eager feet,
Until it joins some larger way
Where many paths and errands meet,
And whither then? I cannot say.
J. R. R. Tolkien
Inglaterra
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Gabriela Mistral
The night, it is deserted
from the mountains to the sea.
But I, the one who rocks you,
I am not alone!
The sky, it is deserted
for the moon falls to the sea.
But I, the one who holds you,
I am not alone!
The world, it is deserted.
All flesh is sad you see.
But I, the one who hugs you,
I am not alone!
Gabriela Mistral
Chile
terça-feira, 22 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Álvaro de Campos
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
Portugal
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Octavio Paz
Between going and staying the day wavers,
in love with its own transparency.
The circular afternoon is now a bay
where the world in stillness rocks.
All is visible and all elusive,
all is near and can't be touched.
Paper, book, pencil, glass,
rest in the shade of their names.
Time throbbing in my temples repeats
the same unchanging syllable of blood.
The light turns the indifferent wall
into a ghostly theater of reflections.
I find myself in the middle of an eye,
watching myself in its blank stare.
The moment scatters. Motionless,
I stay and go: I am a pause.
Octavio Paz
Tradução por Eliot Weinberger
México
domingo, 20 de junho de 2010
Momentos de Poesia - T.S.Eliot
Stand on the highest pavement of the stair--
Lean on a garden urn--
Weave, weave the sunlight in your hair--
Clasp your flowers to you with a pained surprise--
Fling them to the ground and turn
With a fugitive resentment in your eyes:
But weave, weave the sunlight in your hair.
So I would have had him leave,
So I would have had her stand and grieve,
So he would have left
As the soul leaves the body torn and bruised,
As the mind deserts the body it has used.
I should find
Some way incomparably light and deft,
Some way we both should understand,
Simple and faithless as a smile and shake of the hand.
She turned away, but with the autumn weather
Compelled my imagination many days,
Many days and many hours:
Her hair over her arms and her arms full of flowers.
And I wonder how they should have been together!
I should have lost a gesture and a pose.
Sometimes these cogitations still amaze
The troubled midnight and the noon's repose.
T.S.Eliot
E.U.A.
sábado, 19 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Margaret Atwood
The rest of us watch from beyond the fence
as the woman moves with her jagged stride
into her pain as if into a slow race.
We see her body in motion
but hear no sounds, or we hear
sounds but no language; or we know
it is not a language we know
yet. We can see her clearly
but for her it is running in black smoke.
The cluster of cells in her swelling
like porridge boiling, and bursting,
like grapes, we think. Or we think of
explosions in mud; but we know nothing.
All around us the trees
and the grasses light up with forgiveness,
so green and at this timeof the year healthy.
We would like to call something
out to her. Some form of cheering.
There is pain but no arrival at anything.
Margaret Atwood
Canadá
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Alberto Caeiro
Falaram-me os homens em humanidade,
Mas eu nunca vi homens nem vi humanidade.
Vi vários homens assombrosamente diferentes entre si.
Cada um separado do outro por um espaço sem homens.
Alberto Caeiro
Portugal
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Emily Dickinson
It was not death, for I stood up,
And all the dead lie down.
It was not night, for all the bells
Put out their tongues for noon.
It was not frost, for on my flesh
I felt siroccos crawl,
Nor fire, for just my marble feet
Could keep a chancel cool.
And yet it tasted like them all,
The figures I have seen
Set orderly for burial
Reminded me of mine,
As if my life were shaven
And fitted to a frame
And could not breathe without a key,
And 'twas like midnight, some,
When everything that ticked has stopped
And space stares all around,
Or grisly frosts, first autumn morns,
Repeal the beating ground;
But most like chaos, stopless, cool,
Without a chance, or spar,
Or even a report of land
To justify despair.
Emily Dickinson
E.U.A.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Momentos de Poesia - James Joyce
The noon's greygolden meshes make
All night a veil,
The shorelamps in the sleeping lake
Laburnum tendrils trail.
The sly reeds whisper to the night
A name-- her name-
And all my soul is a delight,
A swoon of shame.
James Joyce
Irlanda
terça-feira, 15 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Dante
Two ladies to the summit of my mind
Have clomb, to hold an argument of love.
The one has wisdom with her from above,
For every noblest virtue well designed:
The other, beauty's tempting power refined
And the high charm of perfect grace approve:
And I, as my sweet Master's will doth move,
At feet of both their favors am reclined.
Beauty and Duty in my soul keep strife,
At question if the heart such course can take
And 'twixt the two ladies hold its love complete.
The fount of gentle speech yields answer meet,
That Beauty may be loved for gladness sake,
And Duty in the lofty ends of life
Dante Alighieri
Tradução por: D.G.Rossetti
Itália
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Czeslaw Milosz
Maidenly lake, fathomless lake,
Stay as you were once, overgrown with rushes,
Idling with a reflected cloud, for my sake
Whom your shore no longer touches.
Your girl was always real to me.
Her bones lie in a city by the sea.
Everything occurs too normally.
A unique love simply wears away.
Girl, hey, girl, we repose in an abyss.
The base of a skull, a rib, a pelvis,
Is it you? me? We are more than this.
No clock counts hours and years for us.
How could a creature, ephemeral, eternal,
Measure for me necessity and fate?
You are locked with me in a letter-crystal.
No matter that you're not a living maid.
Czeslaw Milosz
Lituânia
domingo, 13 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Ricardo Reis
É tão suave a fuga deste dia,
Lídia, que não parece, que vivemos.
Sem dúvida que os deuses
Nos são gratos esta hora,
Em paga nobre desta fé que temos
Na exilada verdade dos seus corpos
Nos dão o alto prémio
De nos deixarem ser
Convivas lúcidos da sua calma,
Herdeiros um momento do seu jeito
De viver toda a vida
Dentro dum só momento,
Dum só momento, Lídia, em que afastados
Das terrenas angústias recebemos
Olímpicas delícias
Dentro das nossas almas.
E um só momento nos sentimos deuses
Imortais pela calma que vestimos
E a altiva indiferença
Às coisas passageiras
Como quem guarda a c'roa da vitória
Estes fanados louros de um só dia
Guardemos para termos,
No futuro enrugado,
Perene à nossa vista a certa prova
De que um momento os deuses nos amaram
E nos deram uma hora
Não nossa, mas do Olimpo.
Ricardo Reis
Portugal
sábado, 12 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Rainer Maria Rilke
Simply she stands at the cathedral’s
great ascent, close to the rose window,
with the apple in the apple-pose,
guiltless-guilty once and for all
of the growing she gave birth to
since form the circle of eternities
loving she went forth, top struggle through
her way throughout the earth like a young year.
Ah, gladly yet a little in that land
Would she have lingered, heeding the harmony
And understanding of the animals.
But since she found the man determined,
She went with him, aspiring after death,
And she had as yet hardly known God.
Rainer Maria Rilke
Alemanha
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Lord Byron
She walks in beauty, like the night
Of cloudless climes and starry skies;
And all that's best of dark and bright
Meet in her aspect and her eyes:
Thus mellow'd to that tender light
Which heaven to gaudy day denies.
One shade the more, one ray the less,
Had half impair'd the nameless grace
Which waves in every raven tress,
Or softly lightens o'er her face;
Where thoughts serenely sweet express
How pure, how dear their dwelling-place.
And on that cheek, and o'er that brow,
So soft, so calm, yet eloquent,
The smiles that win, the tints that glow,
But tell of days in goodness spent,
A mind at peace with all below,
A heart whose love is innocent!
Lord Byron
Inglaterra
E SKA HOUVESSE REGGAE?
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Camilo Pessanha
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Camilo Pessanha
Portugal
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Antero de Quental
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Antero de Quental
Portugal
terça-feira, 8 de junho de 2010
Momentos de Poesia - José Régio
Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio
Portugal
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Robert Frost
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth.
Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same.
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I-
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Robert Frost
E. U. A.
domingo, 6 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Jacques Prèvert
Ele diz não com a cabeça
Ele diz sim com o coração
Mas diz sim àquilo de que gosta
Ele diz não ao professor.
Ele está de pé
Alguém o questiona
E todos os problemas se colocam.
De repente, desata a rir-se
E apaga todos os números e palavras,
As datas e os nomes,
As frases e as ciladas.
E apesar das ameaças do mestre,
Sob os apupos dos meninos-prodígio,
Ele desenha o rosto da felicidade
Com o giz de várias cores
No quadro negro da infelicidade.
Jacques Prévert
França
Tradução de Isilda Lourenço Afonso
sábado, 5 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Edgar Allan Poe
From childhood's hour I have not been
As others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.
Then- in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life- was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view.
Edgar Allan Poe
Inglaterra
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Almada Negreiros
A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei dó que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e que não me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
Almada Negreiros
Portugal
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Petrarca
She ruled in beauty o'er this heart of mine,
A noble lady in a humble home,
And now her time for heavenly bliss has come,
'Tis I am mortal proved, and she divine.
The soul that all its blessings must resign,
And love whose light no more on earth finds room,
Might rend the rocks with pity for their doom,
Yet none their sorrows can in words enshrine;
They weep within my heart; and ears are deaf
Save mine alone, and I am crushed with care,
And naught remains to me save mournful breath.
Assuredly but dust and shade we are,
Assuredly desire is blind and brief,
Assuredly its hope but ends in death.
Francesco Petrarca
Itália
Tradução de Thomas Wentworth Higginson
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Momentos de Poesia - Cecília Meireles
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
Brasil
terça-feira, 1 de junho de 2010
Momentos de Poesia - García Lorca
O Poeta Pede a Seu Amor que lhe Escreva
Meu entranhado amor, morte que é vida,
tua palavra escrita em vão espero
e penso, com a flor que se emurchece
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem a sombra conhece nem a evita.
Coração interior não necessita
do mel gelado que a lua derrama.
Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias,
sobre a tua cintura, tigre e pomba,
em duelo de mordidas e açucenas.
Enche minha loucura de palavras
ou deixa-me viver na minha calma
e para sempre escura noite d'alma.
Federico García Lorca
Espanha
Tradução de Oscar Mendes
segunda-feira, 31 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - L. C. Patraquim
a Mãe não era ainda mulher
e depois ficou Mãe
e a mulher é que é a vagem e a terra
então percebi a cor
e metáfora
mas agora morto Adamastor
tu viste-lhe o escorbuto e cantaste a madrugada
das mambas cuspideiras nos trilhos do mato
falemos dos casacos e do medo
tamborilando o som e a fala sobre as planícies verdes
e as espigas de bronze
as rótulas já não tremulam não e a sete de Marco
chama-se Junho desde um dia de há muito com meia dúzia
de satanhocos moçambicanos todos poetas gizando
a natureza e o chão no parnaso das balas
falemos da madrugada e ao entardecer
porque a monção chegou
e o último insone povoa a noite de pensamentos grávidos
num silêncio de rãs a tisana do desejo
enquanto os tocadores de viola
com que latas de rícino e amendoim
percutem outros tendões da memória
e concreta
a música é o brinquedo
a roda
e o sonho
das crianças que olham os casacos e riem
na despudorada inocência deste clarão matinal
que tu
clandestinamente plantaste
AOS GRITOS
Luís Carlos Patraquim
Moçambique
Lançamento do Livro: Polifonias Insulares - Cultura e Literatura de São Tomé e Príncipe
Lançamento no dia 7 de Junho, pelas 18h00, no Bar da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Apresentação de Prof.ª Doutora Isabel Castro Henriques
Sinopse: Inocência Mata tem promovido e lançado, nas suas viagens literárias, expectativas, dúvidas e ironia céptica, ao mesmo tempo que dá a conhecer, numa perspectiva crítica e analítica e não redutora, e anormalmente disciplinar ou especializada, os contornos e enquadramento das obras de autores como Manuela Margarido, Aíto Bonfim, Conceição Lima e Sacramento Neto e outros que, não sendo são-tomenses, escolheram as ilhas como seu lugar de gestação literária mantendo, assim, um diálogo com a cultura e a sociedade são-tomenses: Otilina Silva, Pedro Rosa Mendes, Paulo Ramalho. José Cassandra (Do “Posfácio”)
http://www.facebook.com/home.php?#!/event.php?eid=117442298297102&ref=mf
Homenagem a Gonçalo Castello-Branco
domingo, 30 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Agostinho Neto
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar no homem criar na massa
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impudica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho-sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos.
Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forcas
[simuladas
criar
criar amor com os olhos secos.
Agostinho Neto
Angola
sábado, 29 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Vera Duarte
Queria ser um poema lindo
cheirando a terra
com sabor a cana
Queria ver morrer assassinado
um tempo de luto
de homens indignos
Queria desabrochar
— flor rubra —
do chão fecundado da terra
ver raiar a aurora transparente
ser r´beira d´julion
em tempo de são João
nos anos de fartura d´espiga d´midje
E ser
riso
flor
fragrante
em cânticos na manhã renovada
Vera Duarte
Cabo Verde
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Rui Knopfli
Rompe-me o sono um latir de cães
na madrugada. Acordo na antemanhã
de gritos desconexos e sacudo
de mim os restos da noite
e a cinza dos cigarros fumados
na véspera.
Digo adeus à noite sem saudade,
digo bom-dia ao novo dia.
Na mesa o retrato ganha contorno,
digo-lhe bom-dia
e sei que intimamente ele responde.
Saio para a rua
e vou dizendo bom-dia em surdina
às coisas e pessoas por que passo.
No escritório digo bom-dia.
Dizem-me bom-dia como quem fecha
uma janela sobre o nevoeiro,
palavras ditas com a epiderme,
som dissonante, opaco, pesado muro
entre o sentir e o falar.
E bom dia já não é mais a ponte
que eu experimentei levantar.
Calado,
sento-me à secretária, soturno, desencantado.
(Amanhã volto a experimentar).
Rui Knopfli
Moçambique
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Jorge Barbosa
Quando o descobridor chegou à primeira ilha
nem homens nus
nem mulheres nuas
espreitando
inocentes e medrosos
detrás da vegetação.
Nem setas venenosas vindas do ar
nem gritos de alarme e de guerra
ecoando pelos montes.
Havia somente
as aves de rapina
de garras afiadas
as aves marítimas
de vôo largo
as aves canoras
assobiando inéditas melodias.
E a vegetação
cujas sementes vieram presas
nas asas dos pássaros
ao serem arrastados para cá
pelas fúrias dos temporais.
Quando o descobridor chegou
e saltou da proa do escaler varado na praia
enterrando
o pé direito na areia molhada
e se persignou
receoso ainda e surpreso
pensa n´El-Rei
nessa hora então
nessa hora inicial
começou a cumprir-se
este destino ainda de todos nós.
Jorge Barbosa
Cabo Verde
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Manuela Margarido
A noite sangra
no mato,
ferida por uma aguda lança
de cólera.
A madrugada sangra
de outro modo:
é o sino da alvorada
que desperta o terreiro.
E o feito que começa
a destinar as tarefas
para mais um dia de trabalho.
A manhã sangra ainda:
salsas a bananeira
com um machim de prata;
capinas o mato
com um machim de raiva;
abres o coco
com um machim de esperança;
cortas o cacho de andim
corn um machim de certeza.
E à tarde regressas
a senzala;
a noite esculpe
os seus lábios frios
na tua pele
E sonhas na distância
uma vida mais livre,
que o teu gesto
há-de realizar.
Manuela Margarido
S. Tomé e Príncipe
terça-feira, 25 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Luandino Vieira
Branca a buganvília explode
no odiado muro em frente
à volta a vida berra crente
e o negro sangue estanca
vermelha a buganvília
rompe o muro da frente
Luandino Vieira
Angola
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Vasco Cabral
A noite veio,
disfarçada em dia,
e ofereceu-me a luz,
diáfana como a Aurora.
Mas eu disse que não.
Depois veio a serpente
disfarçada em virgem
e ofereceu-me os seios e os braços nus.
Mas eu disse que não.
Por fim veio Pilatos,
disfarçado em Cristo,
e numa voz humana e doce
disse: "se quiseres eu dou-te o paraíso
mas conta a tua historia..."
Mas eu disse que não,
que não, não, não!
E continuei um Homem!
E eles continuaram
os abutres do medo e do silêncio.
Vasco Cabral
Guiné-Bissau
domingo, 23 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Costa Andrade
Não existe mais
a casa onde nasci
nem meu Pai
nem a mulambeira
da primeira sombra.
Não existe o pátio
o forno a lenha
nem os vasos e a casota do leão.
Nada existe
nem sequer ruínas
entulho de adobes e telhas
calcinadas.
Alguém varreu o fogo
a minha infância
e na fogueira arderam todos os ancestres.
Costa Andrade
Angola
sábado, 22 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Ernesto Lara Filho
Os nossos filhos
Negra
hão-de trazer as ambições estampadas
nos olhos claros.
Os nossos filhos
Negra
hão-de trazer a vida à flor da pele escura.
Os nossos filhos
Negra
hão-de gargalhar o seu desprezo pelas Universidades da Europa
e hão-de rir-se dos que ficarem atrás nas classificações.
Os nossos filhos
Negra
hão-de ser belos
hão-de trazer nas veias o sangue mais puro e mais vermelho
das raças de Angola
e os seus peitos
hão-de chegar primeiro nas competições desportivas
da América, da Europa e do Mundo.
Os nossos filhos
Negra
serão os construtores, os engenheiros, os médicos, os
[cientistas do Mundo que vem
Eles pisarão quem se lhes atravessar na frente
Eles hão-de fazer soar os "Boogie-woogies" de
[Armstrong e Peters
nas "boites" de Paris, Londres, Moscovo e Nova Iorque
e não mais terão lugares secundários nas bichas de autocarros de Joburgo.
E principalmente
Negra
os nossos filhos
chegarão sempre primeiro
nas competições espirituais e desportivas
da Europa
da América
e do Mundo.
E principalmente
Negra
eles serão
OS NOSSOS FILHOS
Ernesto Lara Filho
Angola
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Alda Lara
Testamento
À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...
E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...
Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...
E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.
Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...
Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,
Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...
Alda Lara
Angola
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - José Tenreiro
(A Langston Hughes)
Vem até mim
nesta noite de vendaval na Europa
pela voz solitária de um trompete
toda a melancolia das noites de Geórgia;
oh! mamie oh! mamie
embala o teu menino
oh! mamie oh! mamie
olha o mundo roubando o teu menino.
Vem até mim
ao cair da tristeza no meu coração
a tua voz de negrinha doce
quebrando-se ao som grave dum piano
tocando em Harlem:
– Oh! King Joe
King Joe
Joe Louis bateau Buddy Baer
E Harlem abriu-se num sorriso branco
Nestas noites de vendaval na Europa
Count Basie toca para mim
e ritmos negros da América
encharcam meu coração;
– ah! ritmos negros da América
encharcam meu coração!
E se ainda fico triste
Langston Hughes e Countee Cullen
Vêm até mim
Cantando o poema do novo dia
– ai! os negros não morrem
nem nunca morrerão!
...logo com eles quero cantar
logo com eles quero lutar
– ai! os negros não morrem nem
nem nunca morrerão!
José Tenreiro
S. Tomé e Príncipe
Vendedor de Passados de José Eduardo Agualusa | Tradução para Romeno
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Ana Paula Tavares
Não conheço nada do país do meu amado
Não sei se chove, nem sinto o cheiro das
laranjas.
Abri-lhe as portas do meu país sem perguntar nada
Não sei que tempo era
O meu coração é grande e tinha pressa
Não lhe falei do país, das colheitas, nem da seca
Deixei que ele bebesse do meu país o vinho o mel a carícia
Povoei-lhe os sonhos de asas, plantas e desejo
O meu amado não me disse nada do seu país
Deve ser um estranho país
o país do meu amado
pois não conheço ninguém que não saiba
a hora da colheita
o canto dos pássaros
o sabor da sua terra de manhã cedo
Nada me disse o meu amado
Chegou
Mora no meu país não sei por quanto tempo
É estranho que se sinta bem
e parta.
Volta com um cheiro de país diferente
Volta com os passos de quem não conhece a pressa.
Ana Paula Tavares
Angola
terça-feira, 18 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - José Craveirinha
Eu cidadão anónimo
do País que mais amo sem dizer o nome
se é para me dar de corpo e alma
dou-me todo como daquela vez em Chaimite.
Dou-me em troca de mil crianças felizes
nenhum velho a pedir esmola
uma escola em cada bairro
salário justo nas oficinas
filas de camiões carregados de hortaliças
um exército de operários todos com serviço
um tesouro de belas raparigas maravilhando as praias
e ao vento da minha terra uma grande bandeira sem quinas.
Se é para me dar
dou-me de graça por conta disso.
Mas se é para me vender
vendo-me mas vendo-me muito caro.
Ao preço incondicional
de quanto me pode custar este poema.
José Craveirinha
Moçambique
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Mês de África na FLUL - Mia Couto
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
Mia Couto
Moçambique
domingo, 16 de maio de 2010
Momentos de Poesia - Goethe
A paixão traz a dor! — Quem é que acalma
Coração em angústia que sofreu perda tal?
As horas fugidias — para onde é que voaram?
O que há de mais belo em vão te coube em sorte!
Turbado está o espírito, o agir emaranhado;
O mundo sublime — como foge aos sentidos!
Mas eis, com asas de anjo, surge a música,
Entrelaça aos milhões os sons aos sons
Pra varar, lado a lado, a alma humana
E de todo a afogar em eterna beleza:
Marejado o olhar, na mais alta saudade
Sente o preço divino dos sons e o das lágrimas.
E assim aliviado, nota em breve o coração
Que vive ainda e pulsa e quer pulsar,
Pra ofertar-se de vontade própria e livre
De pura gratidão pela dádiva magnânima.
Sentiu-se então — oh! pudesse durar sempre! —
A ventura dobrada da música e do amor.
Johann Wolfgang von Goethe
Alemanha
Tradução de Paulo Quintela
sábado, 15 de maio de 2010
Momentos de Poesia - Velimir Khlebnikov
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos - risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Velimir Khlebnikov
Rússia
Tradução de Haroldo de Campos
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Momentos de Poesia - Almeida Garrett
Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
E eu n’alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
Almeida Garrett
Portugal
Mês de África na FLUL
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Momentos de Poesia - Alexandre O'Neill
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O’Neill
Portugal
terça-feira, 11 de maio de 2010
Momentos de Poesia - Paul Valéry
Acomodar-se às coisas: aceitar
o formato de agosto – o vir do vento,
esta chuva que cai sem se cansar
e a experiência opressiva do ar cinzento.
Não forçar os limites, não tentar
ultrapassar a curva do momento;
não querer outra cor, outro lugar,
outro céu, outra fome, outro tormento. –
Ficar aqui, somente, esclarecido
pela justiça simples do possível,
que torna suave a rosa antes do olvido:
cumprindo uma tarefa que convém
e suportando o gume do sensível,
que arde em promessas sob a luz-ninguém
Paul Valéry
França
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Momentos de Poesia - William Blake
Crueldade tem Humano Coração,
E tem a Intolerância Humano Rosto;
O Terror a Divina Humana Forma,
O Secretismo Humano Traje posto.
O Humano Traje é Ferro forjado,
A Humana Forma, Forja incendiada,
O Humano Rosto, Fornalha bem selada,
Humano Coração, Abismo seu Esfaimado.
William Blake
Inglaterra
Tradução de Hélio Osvaldo Alves
sexta-feira, 7 de maio de 2010
A Arte do Leitor - Junta-te a nós!
Contribui com poemas, recensões críticas aos últimos concertos e peças de teatro a que assististe, comenta o teu livro e o teu filme preferidos, fala-nos sobre as tuas bandas favoritas!
Podes enviar também trabalhos de pintura (tradicional ou digital), fotografia, escultura ou qualquer outra forma de arte, desde que passível de ser publicada no blogue.
Se quiseres, podes até sugerir poemas ou pequenos contos de autores nacionais ou internacionais, mais ou menos conhecidos!
Participa, esperamos o teu contributo!
Envia as tuas obras para bib.dif.cultural@gmail.com
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2010 - António Gedeão
Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção falar concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.
Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer aos olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.
Também eu das palavras me arreceio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.
E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.
António Gedeão
Portugal
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2010 - Cesário Verde
Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos
Brilhavam como pérolas os prantos.
Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.
E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
- "Tu pareces nascida da rajada,
"Tens despeitos raivosos, resolutos:
"Chora, chora, mulher arrenegada;
"Lagrimeja por esses aquedutos...
-"Quero um banho tomar de água salgada."
Cesário Verde
Portugal
terça-feira, 4 de maio de 2010
Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2010 - Cervantes
Bailan las gitanas,
míralas el rey;
la reina, con celos,
mándalas prender.
Por Pascua de Reyes
hicieron al reyun baile gitano
Belica e Inés.
Turbada Belica,
cayó junto al rey,
y el rey la levanta
de puro cortés;
mas como es Belilla
de tan linda tez,
la reyna, celosa,
mándalas prender.
Cervantes
Espanha
sábado, 1 de maio de 2010
Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2010 - Eugénio de Andrade
É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.
Eugénio de Andrade
Portugal
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2010 - António Ramos Rosa
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
António Ramos Rosa
Portugal
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Wislawa Szymborska
When I pronounce the word Future,
the first syllable already belongs to the past.
When I pronounce the word Silence,
I destroy it.
When I pronounce the word Nothing,
I make something no nonbeing can hold.
Wislawa Szymborska
Polónia
B-B - Exposição Bibliográfica
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Camões
Sempre a Razão vencida foi de Amor;
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis Amor ser vencido da Razão.
Ora que caso pode haver maior!
Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração,
Que perde suas forças a afeição,
Por que não perca a pena o seu rigor.
Pois nunca houve fraqueza no querer,
Mas antes muito mais se esforça assim
Um contrário com outro por vencer.
Mas a Razão, que a luta vence, enfim,
Não creio que é Razão; mas há-de ser
Inclinação que eu tenho contra mim.
Luís de Camões
Portugal
terça-feira, 27 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Sophia de Mello Breyner
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Portugal
domingo, 25 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Bocage
Ó retrato da Morte! Ó Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti sòmente os diga
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel que a delirar me obriga.
E vós, ó cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar o meu coração de horrores.
Bocage
Portugal
sábado, 24 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Herberto Helder
Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
Herberto Helder
Portugal
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Al Berto
E ao anoitecer
e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia
Al Berto
Portugal
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Manga a Ocidente - Dia Mundial do Livro 2010
terça-feira, 20 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Fernando Pessoa
Não é ainda a noite
Mas é já frio o céu.
Do vento o ocioso açoite
Envolve o tédio meu.
Que vitórias perdidas
Por não as ter querido!
Quantas perdidas vidas!
E o sonho sem ter sido...
Ergue-te, ó vento, do ermo
Da noite que aparece!
Há um silêncio sem termo
Por trás do que estremece...
Pranto dos sonhos fúteis,
Que a memória acordou, I
núteis, tão inúteis –
Quem me dirá quem sou?
Fernando Pessoa
Portugal
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Senghor
Na escassa penumbra da tarde,sonho.
Vêm me visitar as fadigas do dia,
os defuntos do ano, as lembranças da década,
como uma procissão dos mortos daquela aldeia
perdida lá no horizonte.
Este é o mesmo sol, impregnado de miragens
o mesmo céu que presenças ocultas dissimulam
o mesmo céu temido daqueles que tratam
com os que se foram
Eis que a mim vêm os meus mortos.
Léopold Senghor
Senegal
Sérvia, Caricaturas Contemporâneas
sábado, 17 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Shakespeare
Comparar-te a um dia de verão?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor às mãos do furacão,
o foral do verão que chega ao fim.
Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.
Mas juro-te que o teu humano verão
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;
e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vê e que respira,
te verá respirar na minha lira.
William Shakespeare
Inglaterra
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Dia Mundial do Livro 2010 - Pablo Neruda
Ir levando no caminho os amores perdidos
e os sonhos idos
e os fatais sinais do olvido.
Ir seguindo na dúvida das horas apagadas,
pensando que todas as coisas se tornaram amargas
para alongarmos mais a via dolorosa.
E sempre, sempre, sempre recordar a fragrância
das horas que passam sem dúvidas e sem ânsias
e que deixamos longe na estéril errância.
Pablo Neruda
Chile
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Baudelaire
Grandes bosques, de vós, como das catedrais,
Sinto pavor; uivais como órgãos; e em meu peito,
Câmara ardente onde retumbam velhos ais,
De vossos De profundis ouço o eco perfeito.
Te odeio, oceano! Teus espasmos e tumultos,
Em si minha alma os tem; e este sorriso amargo
Do homem vencido, imerso em lágrimas e insultos,
Também os ouço quando o mar gargalha ao largo.
Me agradarias tanto, ó noite, sem estrelas
Cuja linguagem é por todos tão falada!
O que procuro é a escuridão, o nu, o nada!
Mas eis que as trevas afinal são como telas,
Onde, jorrando de meus olhos aos milhares,
Vejo a e olharem mortas faces familiares.
Charles Baudelaire
França
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Matsuo Basho
年暮れぬ
笠きて草鞋
はきながら
Toshi kurenu
Kasa kite waraji
Hakinagara
Another year is gone;
and I still wear
straw hat and straw sandal.
Matsuo Basho
Japão
terça-feira, 13 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Vinicius de Moraes
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes
Brasil
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Carlos Drummond de Andrade
Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.
Carlos Drummond de Andrade
Brasil
domingo, 11 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Clarice Lispector
O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.
Clarice Lispector
Brasil
sábado, 10 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Mia Couto
Destino
à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos
vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso
conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso
agora
que mais
me poderei vencer?
Mia Couto
Moçambique
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Primavera Alentejana
Dia Mundial da Poesia 2010 - José Craveirinha
Lágrimas?
Ou apenas dois intoleráveis
ardentes gumes de névoa
acutilando-me cara abaixo?
José Craveirinha
Moçambique
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Dia Mundial da Poesia 2010 - Armando Artur
Agora não professo
nem sussurro ao vento
os segredos que reinvento,
remo na transumância dos dias.
O sonho, esse discípulo
da noite dissipada,
inspira-me à peregrinação.
Agora não tenho fronteiras,
mas quando o exílio da memória
me retém o espelho dos dias
ao sentido original das coisas
regresso, porque é necessário
ser contemporâneo do tempo.
Agora, sim, professo:
viver e abraçar os rumores
do presente.
Armando Artur
Moçambique
Dia Mundial da Poesia 2010
terça-feira, 23 de março de 2010
A Biblioteca nas Redes Sociais
quinta-feira, 18 de março de 2010
Sobre a Biblioteca
Biblioteca da Faculdade de Letras de Lisboa
A Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa tem uma história de mais de um século, com origem na Biblioteca do Curso Superior de Letras, fundado por D. Pedro V, em 1859. Possui obras muito raras dos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e XX, de várias áreas culturais.O seu acervo bibliográfico foi-se constituindo ao longo dos anos por meio de compra e de ofertas valiosas, em que se incluem as da Academia Real das Ciências de Lisboa e da Academia de História e muitos legados de professores da Faculdade e de intelectuais portugueses.
Em 2000, a Biblioteca da FLUL mudou-se para um novo edifício, destinado a acolher todas as bibliotecas da Faculdade, o qual se situa a norte do edifício principal da Faculdade de Letras. Tem 6.600 m2 de área coberta e foi projectado pelo arquitecto holandês Harro Wittmer. Com a mudança para um edifício próprio, a actual Biblioteca sofreu um rápido crescimento da sua estrutura orgânica e funcional, oferecendo um conjunto cada vez mais diversificado de serviços e orientando-se para uma resposta eficaz aos desafios e exigências dos seus utilizadores.